CMP reúne-se em Portugal em defesa da solidariedade entre os povos

Divulgamos a intervenção de Socorro Gomes, Presidente do Conselho Mundial da Paz (CMP), na reunião do Secretariado do CMP, que se realizou no Seixal, nos dias 31 de Maio e 1 de Junho.

Queridos companheiros e amigos, primeiramente manifesto o profundo agradecimento aos camaradas do Conselho Português pela Paz e a Cooperação por auspiciar esta reunião e pela calorosa acolhida neste país cujo povo tem rico acervo de experiências e contribuições à causa da paz, da democracia e do progresso social e é partícipe ativo dos esforços para banir as injustiças e a opressão do mundo e conquistar um novo ordenamento político, econômico e social.

 

Desde a última Assembleia Geral do Conselho Mundial da Paz, em julho do ano passado, e a última reunião do Secretariado, em outubro, observa-se no mundo o agravamento das crises econômicas e políticas, a intensificação das ações intervencionistas e guerreiras das potências imperialistas, continuadas e graves ameaças à paz e violações dos direitos dos povos.

Podemos constatar também, por outro lado, a acumulação de fatores favoráveis ao aumento das lutas dos povos e o surgimento de novos atores na cena internacional. Intensificam-se as lutas populares e entram em cena governos progressistas. Ambos os fatores desempenham papel positivo no enfrentamento aos regimes opressivos, a exploração nacional e de classe, pela justiça e o progresso social, pela paz e a soberania nacional.

A crise do capitalismo atira contingentes imensos de pessoas à amargura do desemprego, à fome e à miséria. Os trabalhadores têm realizado heroicas jornadas de luta em defesa dos seus salários, dos seus empregos, dos seus direitos. São inúmeras as ações de massas organizadas pelo movimento sindical nos países capitalistas em crise, greves gerais, revoltas espontâneas. Por toda a parte, os povos vão à luta contra o Estado policial, por democracia e direitos humanos, contra a degradação ambiental, pelos direitos das mulheres, da juventude e contra todas as manifestações de intolerância e obscurantismo. O Conselho Mundial da Paz considera-se partícipe de todas estas lutas.

Crescem as contradições entre as grandes potências pelo domínio do mundo, na disputa para ver quem saqueia mais as riquezas das nações e adquire mais esferas de influência. No quadro da crise econômica, tornam-se mais duras a concorrência, as guerras comerciais e cambiais, refletindo políticas protecionistas cada vez mais lesivas à independência das nações e povos.

Estas são opiniões que o Conselho Mundial da Paz firmou e desenvolveu na sua última Assembleia, em julho do ano passado, em Katmandu, Nepal, e que guardam plena atualidade.

Os interesses dos trabalhadores e dos povos são duramente atingidos por políticas supostamente saneadoras dos desequilíbrios financeiros. Mas, na verdade, estas políticas constituem um brutal ataque aos direitos econômicos e sociais dos trabalhadores e dos povos, bem como à soberania dos países pouco ou medianamente desenvolvidos.

Camaradas, está em curso no mundo um prolongado e acidentado processo de transição nas correlações de força, com grandes repercussões geopolíticas. Nós, lutadores pela paz e por uma nova ordem mundial baseada na cooperação entre povos e nações livres e soberanos, não somos indiferentes a esses processos.

É nosso dever acompanhá-los, compreendê-los e tirar as consequências que favoreçam o avanço das nossas lutas. Como organização internacional que luta pela paz, concentramos as nossas atividades no incremento dos movimentos populares pela paz e de combate às políticas agressivas do imperialismo. Mas não somos indiferentes a fatos objetivos da conjuntura econômica e política internacional que podem favorecer a nossa luta e enfraquecer em alguma medida as potências imperialistas.

Dentro dessa configuração de contradições geopolíticas e econômico-financeiras, e do surgimento de disputas pela desconcentração do poder mundial, pode ser apontada a constituição de outras alianças com o BRICS e blocos como a Organização de Cooperação de Xangai, o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a União de Nações Sul-americanas (Unasul), a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), a Aliança dos Povos de Nossa América (ALBA), as disputas no âmbito da Organização Mundial do Comércio, a luta pela reforma e ampliação do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, assim como as contradições econômicas e geopolíticas no âmbito do G 20, que reúne as vinte maiores economias do mundo.

Também deve ser assinalada como fato positivo no desenvolvimento da conjuntura internacional a realização no mês de agosto de 2012, na capital iraniana, Teerã, da 16ª Cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados, em que países independentes, alguns países socialistas e de orientação revolucionária desempenham papel de peso e têm nesse movimento uma importante vertente de política externa.

Foi um grande acontecimento politico protagonizado pelo maior grupo de países depois da ONU, com 120 Estados membros e 17 países observadores.

O Movimento dos Países Não Alinhados é uma organização cuja plataforma sempre foi a luta contra o colonialismo e o imperialismo, por uma nova ordem econômica e política internacional. Frequentemente, esses países se pronunciam sobre temas candentes da política internacional, como por exemplo, contra o famigerado bloqueio estadunidense a Cuba. O movimento também exige a reforma das organizações internacionais, como o Banco Mundial e o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A sua última Cúpula, com as resoluções que adotou, demonstrou que o Movimento dos Países Não Alinhados permanece atual. Entre as suas prioridades está a luta pela paz mundial, pelo desarmamento, contra o hegemonismo das grandes potências, o neoliberalismo e pelo desenvolvimento sustentável das nações subdesenvolvidas e em desenvolvimento.

Na atualidade, recrudescem as ameaças de guerra e ações intervencionistas por parte do imperialismo estadunidense, seus aliados da Otan e os sionistas israelenses. Nesse quadro, o Movimento dos Países Não Alinhados pode desempenhar importante papel a favor da resistência dos países e povos que lutam para defender a sua soberania e conjurar os perigos advindos da ação imperialista das grandes potências.

Camaradas, novos focos de guerra têm surgido no mundo, no quadro de uma ofensiva imperialista que ameaça indiscriminadamente os povos e nações.

No Oriente Médio, o imperialismo estadunidense e seus aliados da deletéria e criminosa OtAN continuam pondo em prática o chamado plano de “reestruturação democrática”, que outra coisa não é senão uma estratégia imperialista para assegurar sua presença econômica e militar na região, visando a dominar as riquezas estratégicas ali existentes e a obter posições vantajosas na luta pela hegemonia no mundo. A agressão à Líbia, o prosseguimento da ocupação do Afeganistão, os bombardeios sistemáticos com aviões não tripulados “Drones” na fronteira deste país com o Paquistão, a intervenção na Síria, com o suprimento em dinheiro, propaganda, armas e mercenários, assim como a campanha midiática, as pressões diplomáticas e políticas pela derrubada do presidente Assad; o prosseguimento da política de ocupação, colonização, limpeza étnica e terrorismo de Estado de Israel contra o povo palestino, com o apoio explícito do imperialismo estadunidense; as provocações sistemáticas contra o Irã – tudo isto são expressões das políticas intervencionistas do imperialismo no Oriente Médio, que afetam a soberania nacional, a segurança internacional e a paz.

O povo palestino continua a desenvolver uma luta heroica pela conquista do seu Estado soberano e independente. Em novembro do ano passado, o povo palestino alcançou importante vitória com o reconhecimento pelas Nações Unidas do seu status como Estado não membro observador do mais importante organismo internacional. Enquanto isso, os palestinos continuam confrontados com a política genocida e opressora do Estado de Israel, que usurpa suas terras e suas fontes de água e o submete a uma cruel forma de neocolonialismo. Defendemos o sagrado direito deste povo à constituição do seu Estado independente e soberano, nas fronteiras anteriores à guerra de 1967, com capital em Jerusalém Leste e o retorno dos refugiados, conforme decisão da Organização das Nações Unidas. Igualmente, devemos intensificar a campanha internacional pela libertação dos prisioneiros políticos.

O povo sírio continua sob ameaça de intervenção militar pelas potências imperialistas que, a pretexto de defender a “democracia” e os “direitos humanos”, semearam o caos e o conflito armado interno, armando e financiando grupos que aterrorizam e assassinam a população civil. Em mais uma demonstração de que não respeitam o direito internacional, essas potências proclamam abertamente o objetivo de derrocar o governo constitucional do país, a fim de ocupar mais uma posição estratégica na região do Oriente Médio.

Os Estados Unidos, a União Europeia, e seus aliados na região estabeleceram uma estratégia que comporta a intervenção militar, a ocupação e a desagregação da Síria. Agora, anuncia-se uma conferência internacional sobre o país árabe a realizar-se no mês de junho sob os auspícios da Organização das Nações Unidas. Enquanto isso, o regime sionista israelense, instrumento dos imperialistas na região, provoca incidentes e pratica ações militares agressivas.

Mais uma vez reiteramos: somos solidários com o povo sírio e nos opomos frontalmente a qualquer tipo de intervenção militar estrangeira.

Para haver uma solução verdadeira para a crise na Síria e pôr fim ao confronto militar, é indispensável que os países estrangeiros que financiam os bandos armados e mercenários parem imediatamente com essa prática.

O destino do povo sírio deve ser definido unicamente por ele próprio, por suas instituições soberanas, e nunca por interesses externos.

Igualmente, é indispensável que cessem as ameaças de intervenção externa e que as grandes potências, nomeadamente os Estados Unidos e a União Europeia, retirem sua exigência de derrocar o governo vigente na Síria.

A paz no Oriente Médio também está ameaçada pelas provocações e pressões do imperialismo e seus aliados contra o Irã. O país se encontra sob injustificáveis sanções econômicas, sob a acusação de que desenvolve um programa nuclear com fins militares, acusação que o governo iraniano desmente categoricamente, reafirmando o caráter civil do programa e seu apego às normas estipuladas pelo Tratado de Não Proliferação, do qual é signatário. Com este pretexto, Israel faz reiteradas ameaças de ataque militar às usinas nucleares iranianas. O governo dos Estados Unidos, ao tempo em que afirma “ainda” apostar na via diplomática, declarou que não descarta a “opção militar” contra o país persa.

Ultimamente, as potências imperialistas estendem seus focos de guerra para o continente africano, onde estão levando a cabo intensa militarização, com a instalação de bases militares e a criação do Comando Africano – Africom. Em março de 2011, a Otan bombardeou a Líbia, realizando uma guerra devastadora que destruiu a soberania do país e massacrou a população, assassinando milhares de civis e até mesmo o presidente do país, Muamar kadafi.. Recentemente, a partir do mês de janeiro, a França iniciou uma intervenção armada no Mali. Oportunamente, o Conselho Mundial da Paz denunciou a brutal intervenção militar da França no país do Norte da África, que conta com o apoio total e direto dos estados Unidos, da União Europeia e da Otan. Conforme assinala a nota do Conselho Mundial da Paz, esta intervenção “constitui a continuação da implementação dos planos imperialistas para o controle geoestratégico de áreas mais amplas da África”. Está em curso no continente africano uma rivalidade feroz entre as potências imperialistas para abocanharem os recursos energéticos e outras riquezas dos povos.

Graves acontecimentos têm lugar na Península Coreana, onde uma escalada de tensão militar e o perigo de guerra estão permanentemente presentes. Fazemos um apelo à paz e à renúncia a toda a retórica militarista e chamados à guerra. Somos solidários com a República Popular Democrática da Coreia, que é um dos alvos preferenciais do imperialismo estadunidense. O imperialismo usa o território da vizinha Coreia do Sul como base militar, onde acantona tropas, armamento convencional e nuclear. O estado de guerra na Península Coreana é um estado permanente, cuja principal expressão é a realização frequente de manobras militares conjuntas das forças armadas norte-americanas e sul-coreanas, nas quais se mobilizam dezenas de milhares de soldados, navios de guerra, aviões de combate, artilharia pesada e armas nucleares.

Na América Latina, dentre os acontecimentos recentes, destacam-se as vitórias eleitorais de Nicolás Maduro, na Venezuela, e Rafael Correa, no Equador.

O imperialismo estadunidense está desenhando um roteiro de intervenção nos assuntos internos da Venezuela, reforçando as posturas e ações de uma oposição extremada e reacionária, que não hesitou em recorrer à violência para contestar os resultados da eleição presidencial. Ao não reconhecer o resultado eleitoral, os EUA procuram isolar o governo do presidente Nicolás Maduro e fomentar uma crise.

A Venezuela Bolivariana e seu povo merecem toda a solidariedade dos demais povos, não só dos vizinhos latino-americanos, mas de todo o mundo.

O país está avançando na edificação da democracia popular, participativa, da unidade popular e tornou-se base importante da unidade dos povos latino-americanos e caribenhos, cujos primeiros resultados estão em evidência nas atuais conquistas democráticas, patrióticas e no plano da integração soberana e solidária, cujas expressões maiores são a Aliança Bolivariana dos Povos de Nossa América (Alba) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), presidida atualmente pela heroica Cuba socialista, a quem o CMP expressa sua irrestrita solidariedadena luta por sua soberania e pela libertação dos quatro heróis presos nas masmorras dos EEUU. Igualmente, a Venezuela avançou na construção do bem-estar social e na elevação da consciência política do povo. E levantou a bandeira da construção de uma nova sociedade.

A Revolução Bolivariana tornou-se uma trincheira avançada dos povos latino-americanos na luta anti-imperialista e aponta uma nova perspectiva de emancipação nacional e social. Por isso, está no alvo das forças retrógradas. O imperialismo estadunidense não renuncia aos seus planos de dominação da região latino-americana e caribenha e está preparando o cenário para golpear o governo venezuelano.

No quadro latino-americano, destaca-se como fato da maior relevância o diálogo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo nacional. A paz na Colômbia é uma das principais reivindicações dos movimentos populares, democráticos, patrióticos e anti-imperialistas da América Latina, entre eles as próprias Farc. Se concretizada, será uma vitória destas forças e uma derrota dos militaristas, fascistas, paramilitares, narcotraficantes e demais agentes do imperialismo na Colômbia e na América Latina. Uma derrota também dos círculos que desde os Estados Unidos apostaram durante décadas em soluções militaristas, intervencionistas e no aniquilamento das forças insurgentes. O anúncio do diálogo e das negociações de paz entre o governo colombiano e a organização política e insurgente Farc, assim como a emergência da Marcha Patriótica, são fatos novos da maior significação política, em linha com as profundas mudanças em curso na América Latina.

Companheiros, valorizamos a mobilização social e a luta que se desenvolve em múltiplas vertentes e cenários, lutas que já estão em curso, protagonizadas por movimentos sociais, em que se destaca o insubstituível papel dos trabalhadores, da juventude, das mulheres, da intelectualidade progressista, dos movimentos de solidariedade entre os povos e de resistência às guerras imperialistas.

É indispensável promover a convergência entre as forças anti-imperialistas ao redor do mundo, a fim de criar as condições para derrotar essas políticas de guerra e opressão do imperialismo, é preciso levantar com a maior energia a voz de protesto dos povos contra as guerras de agressão e combater os planos neocolonialistas dos EUA. E empunhar com firmeza e amplitude a bandeira de luta pela paz. O Conselho Mundial da Paz (CMP) deve fazer todos os esforços para se somar aos seus aliados estratégicos - a Federação Sindical Mundial (FSM), a Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD), a Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM). É útil também para nossa organização relacionar-se com outras correntes e movimentos que atuam no âmbito do Fórum Social Mundial. Com unidade e amplitude, devemos travar o grande combate da luta anti-imperialista e pela paz.

O Secretariado tem importantes decisões a tomar: Desenvolver iniciativas que envolvam as amplas massas populares na luta pela paz, realizar ações amplas, convergentes e unitárias, contribuir para que se forme no mundo uma grande frente de forças da paz e da liberdade contra as políticas de guerra das grandes potências, reforçar as organizações regionais, multiplicar o numero de organizações integrantes do CMP, dinamizar suas ações, reforçar os veículos de informação e propaganda – estão entre as tarefas sobre cuja realização devemos refletir e deliberar nesta reunião.

Abaixo o imperialismo e as guerras !
Pela soberania e autodeterminação dos povos!
Pela eliminação das bases militares estrangeiras e pelo desmantelamento da OTAN!
Viva a solidariedade entre os Povos!
Bom trabalho a todos nós

Muito obrigada
Socorro Gomes
Lisboa, 1º de junho de 2013