
O Conselho Português para a Paz e Cooperação realizou, no passado dia 22, uma reunião da sua Presidência. Nesta reunião, em que participaram ainda alguns membros da Direção Nacional, os presentes analisaram a preocupante situação internacional atual, e a necessária resposta em defesa da Paz.
A reunião foi dirigida pelo presidente da Mesa da Assembleia da Paz e capitão de Abril, José Baptista Alves e pela vice-presidente da mesa Deolinda Machado.
Divulgamos a intervenção do presidente da mesa, José Baptista Alves:
Reunião da Presidência do CPPC
A complexa situação internacional que desde há tempos se vem agravando, impõe uma profunda reflexão da nossa parte, militantes da Paz, no sentido de auscultar-lhe as tendências, avaliar os efeitos e intuir os perigos para a sobrevivência da Humanidade, por um lado, e, por outro, aferir os resultados da nossa acção cívica e de todos quantos se revêem e trabalham nesta causa.
É portanto, de certa forma, um balanço da nossa actividade o que nos propomos fazer hoje e para isso contamos com o apoio da Direcção, com um objectivo muito preciso de recolha de ensinamentos outros e outros pontos de vista que porventura mais avisados estejam.
É este o desafio que quero deixar explícito, na presunção da vossa adesão e do vosso inestimável contributo.
Assistimos hoje a uma gigantesca campanha do imperialismo norte- americano, com ressonância numa comunicação social subjugada pelos “senhores do dinheiro” dos dois lados do Atlântico, a meu ver, visando preparar a opinião pública para uma II edição da Guerra Fria, visando dois objectivos principais:
-Apaziguar as apreensões quanto ao futuro do gigantesco aparelho militar, face ao desmoronamento do almejado Mundo unipolar todo-poderoso e sem adversário, com que sonharam após o desmoronamento da União Soviética e, em simultâneo, satisfazer a gula desmedida da poderosíssima indústria do armamento americana;
- Travar a ascensão meteórica das potências económicas emergentes, única forma de garantir a sua supremacia universal.
Este será provavelmente o cenário mais ambicionado, Guerra Fria, por mais tranquilo e mais fácil de acomodar na opinião pública ocidental. Mas, mandam as terríveis experiências do século passado não ignorar que outros cenários estão pré-figurados, nos Estados-Maiores das grandes potências militares, sendo o mais tenebroso o conflito nuclear à escala planetária.
Mas a realidade deste século XXI, ainda com todas as incertezas que um vertiginoso progresso introduziu nas nossas vidas á escala global, afasta, a meu ver, estes estereótipos.
Creio ser hoje uma evidência que o declínio do império tem mais a ver com a factura militar do que com qualquer outra razão e não há conhecimento histórico de antídoto que o cure. O surgimento/ ressurgimento de outras potências com influência crescente, nos campos económico e também militar, fazendo antever a criação de vários polos de poder à escala planetária, com os seus interesses próprios, fará gorar qualquer estratégia de Guerra Fria que obviamente colidirá com esses interesses, a troco de nada.
As razões ideológicas, religiosas ou mesmo de combate ao terrorismo, continuarão a ser convincentes para um Mundo tão causticado pelos efeitos nefastos das ingerências, ocupações militares e guerras de agressão e pilhagem feitas em seu nome? Efeitos que são cada vez mais difíceis de esconder nestes tempos da comunicação global?
O recurso à pressão diplomática sobre os “aliados”, ou mesmo chantagem diplomática, a que temos assistido, parece indiciarem o contrário.
Uma outra questão que se coloca agora, é saber-se: o que esperar deste Mundo multipolar? À partida, parece poder esperar-se que a probabilidade de ignição de conflitos de interesses aumente, mas, por outro lado, é de crer que a dominante da resolução pacífica se reforce perante a evidência de o uso da força já não garantir vencedores antecipados.
É aqui que reside um imenso campo de acção para as forças da Paz: reduzir drasticamente os riscos para a Humanidade resultantes da existência das armas de destruição maciça, lutar pela dissolução dos blocos político-militares, lutar pelo desarmamento geral e controlado e impor a solução pacífica dos conflitos internacionais, nos exactos termos plasmados na CRP, nascida da Revolução de Abril. É isto que temos feito no CPPC e é isto que se impõe continuarmos a fazer.
Esta situação de pandemia, que estamos a viver, revelou de forma bem explícita que o modelo desenvolvimentista que o sistema dominante impôs ao Mundo, medido em taxas de crescimento económico, descurou de forma inqualificável, frentes importantes de combate às ameaças à vida na Terra, a começar pela defesa da saúde pública, passando pelo combate às alterações climáticas- que são uma constante mas se agravam, tanto mais quanto a exploração selvagem dos recursos naturais do planeta, ofende os seus equilíbrios naturais- para já não falar no agravamento abismal das desigualdades sociais com condenação à fome duma grande parte da humanidade.
Este é o Mundo que temos, e que temos que mudar, lutando pela criação duma consciência cívica universal pela inversão do rumo suicida que nos tem sido imposto.
A nossa qualidade de coordenadores do Movimento Mundial da Paz para a Europa impõe-nos responsabilidades acrescidas nesta luta sem tréguas para evitar que, mais uma vez, a Europa e o Mundo se tornem num imenso campo de destroços.
Estamos em crer que este objectivo mais e mais se afirmará, deixando para trás a visão consumista e predadora da natureza que nos tem guiado e rumando a uma nova ordem internacional mais equitativa e mais solidária.
Em uníssono com as forças do progresso e da Paz, que por todo o Mundo se batem sem desfalecimento por uma sociedade mais justa e mais fraterna, livre de todo o tipo de predadores e seus servidores, livre da opressão e de todo o tipo de ingerências externas, livres do golpismo militar interno, saudamos a estrondosa vitória do povo boliviano e o restabelecimento da legalidade e legitimidade democrática no país.
Um Mundo melhor, um Mundo de Paz, é possível!